Isso eu vivi

E as calcinhas?

Por Fernanda Esteves

Não faz muito tempo, na conexão para o Porto, em Portugal, a companhia aérea deixou minha mala em Lisboa. A minha e a de uns 40 passageiros. Nos encontramos todos numa imensa fila para reclamar em vários idiomas. No balcão da companhia, os funcionários tinham uma resposta:

– Podem vir (as malas) nos próximos voos. Os senhores esperam ou nós entregamos nas vossas moradas.

Minha morada, por uma noite, era na cidade de Braga. Perto. No dia seguinte, outra cidade mais distante. É claro que eu podia sair do aeroporto e comprar o básico, na crença que a companhia levaria a mala até mim, mas o passageiro tem direitos. Insisti numa espécie de compensação pelo aborrecimento.

– Olhe… – me debrucei no balcão para chegar mais perto da funcionária. – As mulheres não podem ficar sem calcinhas!…

A funcionária concordou com a cabeça e me deu um kit de primeiras necessidades muito bom, mas… sem calcinha.

– Não tem calcinha… – resmunguei.

Era tanta gente a reclamar em vários idiomas e os funcionários tão pacientes e simpáticos que fui embora. Peguei o carro alugado e parei logo num shopping para as compras. No dia seguinte, preferi voltar ao aeroporto a ver se a mala lá estava. Depois de muitos procedimentos para entrar na área de segurança, um rapaz me levou para uma sala repleta de malas. Muitas malas, não a minha. Fui falar com os funcionários da companhia de novo; a fila, de novo, era muito comprida. Decidi ir direto ao balcão.

– Nada da minha mala?

– Olhe, a sua mala já foi para a sua morada em … ( disse o endereço sem consultar nenhum papel).

– Como o senhor sabe onde me hospedo, assim, de cabeça?

– Ah! Pois é, eu sei. Lembro- me bem da senhora.

– Ontem, depois que saiu, nos fartamos de rir com a falta das calcinhas… – sussurrou-me uma funcionária.

– Entendi…

Ainda duvidei que a mala estivesse onde eu ainda não tinha chegado, mas, telefonei e lá estava.

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