O fim da picada. A picada é o fim.
Em tempo da volta da febre amarela ao Brasil, tenho pensado muito em mosquitos. Já havia pensado muito nesse inseto nas epidemias da dengue, zika e chikungunya. Voltei a pensar porque, antes, confesso que, apesar das picadas que resultavam em angustiantes coceiras, relevava a natureza pelo bem que sabe, por exemplo, às lagartixas. Não que eu tenha alguma como animalizinho de estimação, mas simpatizo com as lagartixas. As rarissimas broncas dadas aos gatos foram para que largassem as lagartixas que traziam na boca de presente para mim. As pequenas criaturas, miniaturas de assustadores lagartos, esticam a língua e papam os mosquitos com habilidade. Relevava as eventuais picadas também em prol do equilíbrio ecológico, mas, confesso, muito mais pelo prazer das lagartixas. Porém… Porém, os mosquitos se tornaram mensageiros do horror. E não adianta matar o mensageiro depois da picada. E porque aparecem outros e outros e mais outros.
Eles não sabem, os mosquitos, nem desconfiam de certo, que se tornaram transmissores de doenças que matam os seres humanos. Eles não sabem, nem desconfiam com certeza, talvez nem tenham notado o quanto a procriação aumentou e ganhou um país. Sim, governos relapsos, mas os mosquitos não votam, não se ligam em mais esse crime que governos irresponsáveis cometem contra os humanos.
Os mosquitos também não sabem que acabou o tempo em que eram menosprezados. Ah, ele não passa de um mosquito!… Socorro! Um mosquito!… Agora é assim. Para os mosquitos nada disso importa. O processo de sobrevivência continua o mesmo, desde a criação do primeiro mosquito há mais de cem milhões de anos. Li que os mosquitos antecederam o ser humano na criação. Eles voam, procuram se alimentar até para continuar voando, sugam o sangue de um ser humano, procriam, ensinam aos filhos o mesmo caminho de geração em geração, e assim iniciaram os surtos de doenças mortais nos seres humanos.
Também li que Santo Agostinho, ainda que extremamente respeitoso com a criação divina, questionou o Criador sobre os mosquitos. Pois é, não é mais o fim da picada. A picada é que pode ser o fim.